#3 O Ouro Negro

Diorge Nacarato
May 05, 2025Por Diorge Nacarato

Ciclos Econômicos e o Café no Império e República

Durante os séculos XIX e XX, o café transcendeu seu papel de simples produto agrícola para se tornar o verdadeiro "ouro negro" do Brasil, o motor que impulsionou a economia, ditou rumos políticos e moldou profundamente a sociedade.1 Sua ascensão foi meteórica: de uma cultura introduzida no século anterior, o café rapidamente se tornou o principal produto de exportação brasileiro, sustentando o Império e, posteriormente, as primeiras décadas da República.

O impacto econômico do café foi avassalador. A riqueza gerada pelas exportações financiou o desenvolvimento de infraestrutura crucial para o próprio escoamento da produção. Um exemplo emblemático é a construção da Estrada de Ferro Santos Jundiaí, inaugurada em 1867 2, que conectava as crescentes áreas produtoras do interior paulista ao Porto de Santos, principal ponto de exportação do país. Ferrovias, portos, e até mesmo a urbanização de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, foram em grande parte financiados pelos lucros do café.

A influência do café extrapolou a economia e permeou a esfera política. A elite cafeicultora, especialmente a paulista e a mineira, acumulou um poder político imenso. Esse poder se manifestou na chamada "política do café com leite", um acordo tácito entre as oligarquias de São Paulo (grande produtor de café) e Minas Gerais (grande produtor de leite e também de café) para alternar a presidência da República entre representantes dos dois estados durante a República Velha (1889-1930).

Socialmente, o ciclo do café também deixou marcas profundas. A expansão das lavouras demandou uma quantidade massiva de mão de obra. Inicialmente, essa demanda foi suprida pelo trabalho escravizado, prolongando a escravidão no Brasil até 1888. Após a abolição, a necessidade de trabalhadores atraiu milhões de imigrantes europeus, principalmente italianos, que vieram trabalhar nas fazendas de café, contribuindo para a diversidade étnica e cultural do país, especialmente no Sudeste.

A estrutura agrária brasileira também foi moldada pelo café, com a consolidação de grandes latifúndios cafeeiros (as fazendas) ao lado de pequenas propriedades. A figura do "barão do café", o grande fazendeiro com poder econômico e político, tornou-se um símbolo dessa era. A riqueza gerada pelo café, contudo, era concentrada, acentuando as desigualdades sociais.

Este período de apogeu, onde o Brasil chegou a deter uma posição quase monopolista no mercado mundial de café 2, foi fundamental para a modernização do país, mas também estabeleceu estruturas econômicas e sociais cujos reflexos são sentidos até hoje. Explorar a era do "ouro negro" é entender como o café não apenas enriqueceu o Brasil, mas também o transformou em suas bases mais fundamentais.