#12 Indicações Geográficas (IGs)

Diorge Nacarato
Jun 20, 2025Por Diorge Nacarato

O Selo de Qualidade e Origem.

As Indicações Geográficas (IGs) emergiram como ferramentas estratégicas fundamentais para proteger, valorizar e comunicar a singularidade dos cafés produzidos em regiões específicas do Brasil. Em um mercado cada vez mais competitivo e com consumidores buscando produtos com identidade e origem comprovada, as IGs funcionam como um selo que atesta a ligação entre as qualidades de um café e seu local de produção.4

No Brasil, o sistema de IGs, regulamentado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), contempla duas modalidades principais aplicáveis ao café.4 A primeira é a Indicação de Procedência (IP), que reconhece o nome geográfico de uma região que se tornou conhecida pela produção de um determinado produto ou serviço. No caso do café, a IP atesta a fama e a tradição daquela área na cafeicultura, como é o caso da Alta Mogiana (SP/MG) ou do Norte Pioneiro do Paraná.4

A segunda modalidade, considerada um nível mais elevado de reconhecimento, é a Denominação de Origem (DO). A DO vai além da fama e atesta que as qualidades ou características específicas de um produto se devem essencial e exclusivamente ao meio geográfico, incluindo fatores naturais (clima, solo, altitude) e fatores humanos (tradições de cultivo, métodos de processamento específicos da região).4 Exemplos de DOs para café no Brasil incluem o Cerrado Mineiro, a Mantiqueira de Minas e as Matas de Rondônia.4

Atualmente, o Brasil conta com 14 Indicações Geográficas registradas especificamente para café, sendo 5 DOs e 9 IPs.4 Essa distribuição geográfica das IGs, concentrada principalmente em Minas Gerais, mas presente também em São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Paraná e Rondônia 4, reflete o esforço de diversas regiões em buscar esse reconhecimento formal. O processo para obter uma IG é complexo e exige a organização dos produtores, a delimitação precisa da área geográfica e a comprovação das características diferenciais do produto e sua ligação com a origem.

Para os produtores, a conquista de uma IG representa uma oportunidade significativa de agregação de valor. O selo permite diferenciar o produto no mercado, acessar nichos de consumidores dispostos a pagar mais pela garantia de origem e qualidade, e proteger o nome da região contra usos indevidos. Além disso, o processo de busca pela IG muitas vezes estimula a organização coletiva, a padronização de processos e a melhoria contínua da qualidade.

Para os consumidores, as IGs oferecem transparência e confiança. O selo garante que o café adquirido provém de uma região específica e possui as características sensoriais e de qualidade associadas àquele terroir.4 Em um cenário com tantas opções, as IGs funcionam como um guia, ajudando o consumidor a navegar pela diversidade do café brasileiro e a fazer escolhas mais informadas. A existência e a multiplicação das IGs, somadas a outras certificações de sustentabilidade e qualidade 8, evidenciam uma clara tendência do setor cafeeiro brasileiro em se afastar da imagem de commodity indiferenciada, buscando segmentação e diferenciação baseadas em atributos de origem, qualidade e práticas de produção responsáveis.

Região (Nome da IG)Estado(s)Tipo de IGBreve Descrição/Características Notáveis (Baseado em Fontes)
CaparaóES / MGDORegião de divisa montanhosa, produção artesanal, cafés com doçura e acidez equilibradas. 
Região do Cerrado MineiroMGDOPrimeira IG de café no Brasil. Altitude elevada, estações definidas, cafés com corpo, acidez cítrica e notas de caramelo/chocolate. 
Mantiqueira de MinasMGDOSerras altas, tradição em qualidade. Cafés com acidez cítrica brilhante, corpo cremoso, notas florais e frutadas. 
Matas de RondôniaRODOFoco em cafés Robusta Amazônicos. Bebida encorpada, baixa acidez, notas achocolatadas e de especiarias. 
Montanhas do Espírito SantoESDOTerreno montanhoso, produção de Arábica e Conilon. Cafés com corpo aveludado, acidez média-alta, doçura elevada. 
Alta MogianaSP / MGIPTradição e qualidade em Arábica. Cafés com corpo cremoso, acidez média, doçura acentuada, notas de chocolate e nozes
Campo das VertentesMGIPRegião histórica mineira. Cafés com corpo médio, acidez equilibrada, notas de caramelo e frutas secas
Espírito Santo (Conilon)ESIPFoco no Conilon de qualidade. Bebida encorpada, achocolatada, com baixa acidez, ideal para blends e espresso
Região de GarçaSPIPProdução de Arábica em São Paulo. Cafés com bom corpo, doçura e notas de chocolate
Matas de MinasMGIPRegião de floresta atlântica. Cafés com corpo denso, acidez cítrica, notas de melaço e frutas amarelas. 
Norte Pioneiro do ParanáPRIPTradição cafeeira paranaense. Cafés com doçura elevada, corpo médio, acidez cítrica suave, notas de caramelo. 
Oeste da BahiaBAIP Produção em larga escala com tecnologia. Cafés com acidez cítrica, corpo médio, doçura presente, notas de frutas amarelas. 
Região de PinhalSPIPRegião montanhosa paulista. Cafés com corpo aveludado, acidez média, doçura alta, notas de chocolate e frutas vermelhas. 
Sudoeste de MinasMGIPRecente IG mineira. Cafés com características que valorizam a doçura e o corpo.